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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O INSUSTENTAVEL PESO DO TER

    Não se produz mais gerações com o foco no ser. Decididamente hoje mais vale ter. O importante é ter mp3, ou 4, ou sei lá qual. Ter roupa de grife, o carro do ano, o Ipod, mesmo que você não possa pagar para tê-lo e acabe por não dormir direito atormentado com as mensalidades do equipamento que a sociedade de consumo insiste que é preciso ter para poder ser feliz e reconhecido entre os chamados antenados. É necessário ter o computador de última geração, o celular que acaba com a sua privacidade, a TV de plasma, enfim tudo que for a última palavra em tecnologia.
   Na contrapartida da imposição mercadológica existem os tecnos radicais, que não admitem, em hipótese alguma, envolvimento, por mais que sutil que seja com as ferramentas da geração digital. O que não é meu caso. Sou a favor dos avanços tecnológicos, mas às vezes paro e fico a pensar sobre o futuro dos viajantes desta modernidade desenfreada que afasta o contato físico em nome do estimulo virtual. Mas é preciso ter mais dinheiro para comprar o último lançamento em Playstation para que a criança não se sinta fora do contexto, ao ver os amigos e colegas exibindo uma nova ferramenta da era globalizada. É preciso ter aquela também para não ser motivo de gozação. Qualquer novidade tecnológica passa a ser quase que uma obrigação adquirir. A pressão sobre os pais, por parte da meninada, é infantil, mas conduz ao novo perfil da sociedade moderna que despreza o ser pelo poder corrompido e ultrajante do ter.
   Como diria o saudoso Tim Maia “vale tudo” para ter status, poder, riqueza. Só não vale não ter a ambição típica dos materialistas. Entretanto, certamente alguém, em algum lugar, quer apenas ser. Ser amigo, companheiro com ou sem dinheiro. Ser natural e amante da pintura que o céu faz a cada pôr-do-sol. Ser um admirador da gentileza e da alegria que possa ser proporcionada sem compromisso. Aquela mãe que só se preocupa em saber que horas a filha, ou o filho, retornou da escola, na busca inconscientemente de se sentir segura quanto à segurança deles, esquece de perguntá-los se eles estão bem, se a jornada na escola foi boa, se a relação com os professores e a classe está satisfatória, se as aulas estão servindo para ajudar a entender melhor este mundo programado e conjugado pelo verbo Ter. Querer saber destes detalhes da rotina do estudante parece pouco interessar à matriarca tão envolvida com os seus afazeres profissionais, que qualquer questionamento mais profundo sobre a vida do rebento (a) será exigir demais. Vejamos como o Ter poderia ser mais agradável da rotina das pessoas: Ter tempo para uma prosa longe dos aparelhos da modernidade, ter vez para se expressar sobre o belo azul do mar ou da paisagem celestial, ter a possibilidade de encontrar a experiência nas palavras dos que cresceram sem ter as máquinas de hoje, enfim ter a voz para consolar, falar de amor encorajar ou se comunicar com sábias palavras. Ser ou ter, eis a questão. Diante de nós que pouco temos, um mundo que avança determinado a nos fazer sentir poderosos ao lidar com a modernidade e impotentes ao procurar entender o ser que pode alcançar a plenitude do prazer nas coisas mais simples da vida.

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