Na contrapartida da imposição mercadológica existem os tecnos radicais, que não admitem, em hipótese alguma, envolvimento, por mais que sutil que seja com as ferramentas da geração digital. O que não é meu caso. Sou a favor dos avanços tecnológicos, mas às vezes paro e fico a pensar sobre o futuro dos viajantes desta modernidade desenfreada que afasta o contato físico em nome do estimulo virtual. Mas é preciso ter mais dinheiro para comprar o último lançamento em Playstation para que a criança não se sinta fora do contexto, ao ver os amigos e colegas exibindo uma nova ferramenta da era globalizada. É preciso ter aquela também para não ser motivo de gozação. Qualquer novidade tecnológica passa a ser quase que uma obrigação adquirir. A pressão sobre os pais, por parte da meninada, é infantil, mas conduz ao novo perfil da sociedade moderna que despreza o ser pelo poder corrompido e ultrajante do ter.
Como diria o saudoso Tim Maia “vale tudo” para ter status, poder, riqueza. Só não vale não ter a ambição típica dos materialistas. Entretanto, certamente alguém, em algum lugar, quer apenas ser. Ser amigo, companheiro com ou sem dinheiro. Ser natural e amante da pintura que o céu faz a cada pôr-do-sol. Ser um admirador da gentileza e da alegria que possa ser proporcionada sem compromisso. Aquela mãe que só se preocupa em saber que horas a filha, ou o filho, retornou da escola, na busca inconscientemente de se sentir segura quanto à segurança deles, esquece de perguntá-los se eles estão bem, se a jornada na escola foi boa, se a relação com os professores e a classe está satisfatória, se as aulas estão servindo para ajudar a entender melhor este mundo programado e conjugado pelo verbo Ter. Querer saber destes detalhes da rotina do estudante parece pouco interessar à matriarca tão envolvida com os seus afazeres profissionais, que qualquer questionamento mais profundo sobre a vida do rebento (a) será exigir demais. Vejamos como o Ter poderia ser mais agradável da rotina das pessoas: Ter tempo para uma prosa longe dos aparelhos da modernidade, ter vez para se expressar sobre o belo azul do mar ou da paisagem celestial, ter a possibilidade de encontrar a experiência nas palavras dos que cresceram sem ter as máquinas de hoje, enfim ter a voz para consolar, falar de amor encorajar ou se comunicar com sábias palavras. Ser ou ter, eis a questão. Diante de nós que pouco temos, um mundo que avança determinado a nos fazer sentir poderosos ao lidar com a modernidade e impotentes ao procurar entender o ser que pode alcançar a plenitude do prazer nas coisas mais simples da vida.
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