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terça-feira, 22 de março de 2011

O você vai ser quando o mercado crescer?

O mercado de trabalho está mudando à velocidade de vários gigahertz. Profissões antes inimaginadas não param de surgir: na tela do designer de games, no telão do VJ, no escritório do advogado eletrônico, na empresa do economista ambiental, onde quer que apareça uma nova necessidade. O adolescente de hoje poderá se tornar especialista numa profissão que ainda nem existe. [...]
Estabelecimentos de ensino apostam na formação em assuntos que, há pouco tempo, interessariam apenas a jovens obcecados por novas tecnologias. É o caso da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, que criou neste ano o curso de design e planejamento de games.
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Profissionais desbravadores não são descobertos em testes vocacionais. A vocação costuma ser anterior à fase de definição e frequentemente está associada a algum tipo de hobby. Um menino que passa horas grudado no videogame pode estar perdendo tempo de estudo ou se preparando para um novo trabalho. 
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"A graduação, que inicia a primeira turma neste ano, dá a formação humanística necessária, introduzindo o designer ao marketing, à filosofia, à história da arte", explica a coordenadora dos cursos de design da Anhembi Morumbi, Mônica Moura. A profissão de designer de games não é regulamentada, mas o curso será reconhecido pelo Ministério da Educação no último ano. "Acho que a profissão não será regulamentada, até porque os próprios profissionais se dividem em relação a isso", diz Moura. 
Regulamentadas ou não, as novas profissões já são reconhecidas pelo Ministério do Trabalho em sua Classificação Brasileira de Ocupações, que foi modificada em no ano passado depois de 20 anos sem alterações estruturais. Os cursos de formação para esses profissionais moderninhos ainda engatinham, mas, para ficar com dois exemplos, já é possível frequentar uma sala de aula para aprender a ser DJ ou VJ.
Em todo o país, sobretudo nas grandes cidades, pipocam cursos oferecidos por danceterias ou escolas de música. Como a profissão de DJ não está regulamentada, não é preciso nenhum registro para trabalhar, e os cursos são livres. Uma das pioneiras —a Fieldzz, de São Paulo— forma um novo profissional em 36 horas (12 aulas de três horas cada uma). Mais de 3.000 pessoas já passaram por lá. Os interessados têm as mais diversas formações: há, entre os alunos, professores de inglês, diretores de marketing e até ortopedistas.
"Há alunos que querem se profissionalizar, mas, na mesma proporção, há quem assista às aulas apenas por curiosidade, para agitar festas de amigos", diz o DJ Iraí Campos, diretor da Fieldzz. Ele adverte: "O curso não é suficiente. Sair dele não quer dizer que o cara vai conseguir emprego. Tem de se aproximar de uma casa noturna, de um DJ mais experiente, ajudando, tocando na noite. Há muitas pessoas se oferecendo para discotecar por nada, pelo sonho de estar no palco. Existe mais oferta do que procura, e as casas noturnas acabam se aproveitando disso". 
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Não é só o som que abre novos mercados de trabalho. A luz também é objeto da atenção de novos profissionais. Relacionado à arquitetura e à engenharia, o "lighting design" começa a entrar na academia associado a cursos tradicionais. Um dos primeiros cursos universitários em "lighting design" de que se tem notícia funciona desde março passado na Áustria, graças a um convênio entre a Bartenbach Lichtlabor, empresa de iluminação, e a Universidade de Innsbruck. O "lighting designer" atua na iluminação de interiores e exteriores dos edifícios e lugares públicos e, ainda, na iluminação de eventos.
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O profissional do futuro deve se preparar, ainda, para ser um especialista multidisciplinar. A contradição é apenas aparente. Ele precisará conhecer sua área tanto quanto possuir uma formação que lhe permita ter uma visão abrangente das diversidades da sociedade contemporânea. "A palavra é multidisciplinar, não há outra", defende Carlos Eduardo Young, 37, professor do Instituto de Economia da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). 
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Profissões como advocacia também experimentam evoluções significativas sem que as faculdades acompanhem com a mesma rapidez. É difícil imaginar o alcance que terá uma área que começou a despontar nos últimos dez anos: o direito eletrônico. O advogado eletrônico, ou "e-lawyer", cuida dos aspectos legais relacionados ao mundo virtual. Ainda não existe uma lei específica sobre o virtual.
Outro setor da velha advocacia novinho em folha é o biodireito, definido como o ramo do direito que regulamenta a medicina e a biologia. O biodireito compreende áreas como alimentos transgênicos, clonagem e procriação assistida e atrai profissionais com o perfil de Leonardo Grecco, 24, advogado que sempre teve curiosidade pelas ciências. Há quatro anos, Grecco foi assistir a uma palestra sobre fermentação de álcool combustível na Unicamp. Acabou sendo convidado pelo palestrante, o geneticista Gonçalo Guimarães, para estagiar como consultor jurídico no projeto que desvendou o genoma do amarelinho da laranja, fungo que consumia as plantações.
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Apesar da adaptação de enfoque por parte de algumas escolas e faculdades, muitas profissões do futuro ainda não são objeto da atenção dos educadores. Nas instituições públicas, é mais perceptível o descompasso entre a procura por um novo aprendizado e a oferta do curso correspondente, o que é atribuído ao fato de mudanças curriculares precisarem passar pelo crivo do MEC. Colocados na balança do mercado, no entanto, a necessidade de modernização pesa mais do que a estrutura educacional. 


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