A honestidade do célebre Chico Basílio
Sou fã do Chico César, compósito do Maranhão que é bom de cantar. Chico Buarque é para se pesquisar, devido a sua contribuição para a arte popular. O professor Chico Anísio sintetiza tudo na TV: “...e o salário, oh!. Chico Evangelista continua com todo o suingue que Deus lhe deu. Chico Science está fazendo um som no céu. Talvez Chico Xavier explique melhor isso. O velho Chico continua irrigando plantações e transportando nordestinos. São tantos Chicos que já nem me lembro mais. Mas, do Chico Basílio não vou esquecer não. Na carteira de identidade está lá escrito: Francisco Basílio Cavalcante. Mais conhecido como Chico Basílio Caboclo, cearense, humilde, destemido, de sorriso amigo, fala mansa, para quem mais valioso do que o dinheiro é a honestidade. Trabalhando na limpeza do Aeroporto de Brasília, Chico Basílio achou uma bolsa com US$ 10 mil e R$200, e a devolveu ao esquecido turista suíço, que depois o procurou para agradecer, mas não o encontrou: Chico Basílio já havia se tornado celebridade, ganho os seus 15 minutos de fama quando, no dia 25 de março de 2004, foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto. O homem percebeu ser o Chico Basílio um bom exemplo para o Brasil. Sugiro, portanto, que levemos a sério a atitude do mandatário, reconhecendo no Chico Basílio, alguém que deve ser, repito, exemplo para a nação. Os primeiros, no entanto, a reconhecerem a virtude de Chico Basílio devem ser alguns políticos, que para corresponderem com as expectativas dos seus eleitores, poderiam devolver o que já usurparam dos cofres públicos ao longo de suas carreiras. Infelizmente alguns continuam sendo reeleitos. Mas, como diz a expressão popular. “não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe...”. Quanto ao Chico Basílio, vamos torcer para que muitos outros estejam atuando no anonimato pelos quatro cantos do mundo. Precisamos de uns Chicos Basílios em repartições, prefeituras, órgãos públicos, para que possamos ficar tranqüilos quanto ao gasto do dinheiro nosso, do cidadão. Admitamos que um Chico Basílio faria bem até em algumas equipes do futebol pentacampeão. Mesmo porque para certos jogadores, mais vale o salário milionário do que a rica estória da camisa do clube que representam. Sem exagero algum, acho que a ação do Chico Basílio deveria ser levada para as salas de aula, empresas, associações, partidos políticos, miniséries e publicações diversas. A indústria bem que poderia lançar o bonequinho Chiquinho Basílio. Nem todo pai ficaria satisfeito com o pedido do filho: “Pai, compra um Chiquinho pra mim!” – “Cala a boca menino, Eu vou lhe dar é um boneco do Gerson, que leva vantagem em tudo!”. Uma sugestão para os grupos de teatro: porque não encenar, em praça pública, uma peça sobre a vida do faxineiro que deu uma lição de moral pra o país inteiro? Ele certamente vai inspirar os autores da literatura de cordel. Um nativo de Mar Grande me contou que há duas décadas, um matuto achou uma maleta cheia de dólares no mato. Um policial, não se sabe se civil ou militar, disse para o pobre homem. “Até você se explicar pra o delegado... isso vai dá o rolo danado! Passa essa maleta pra cá!” ...e sumiu com a pasta e tudo. O que não foi o caso do Chico. Este deu prova da mais pura dignidade humana em prol da honestidade. Infelizmente a mídia pouco fez valer o seu gesto diante do grande público. Mesmo porque andava mais ocupada com os Waldomirogates da vida política e com as ações no Morro da Rocinha do que com qualquer outra coisa. Fica a sensação de que um ato nobre de um cidadão comum não merece maior espaço. Afinal, não dá audiência nem vende jornais ou revistas... e o que poderia servir de referencial, para uma sociedade passa praticamente despercebido, salvo um breve relato no compacto Jornal Nacional. Certamente temos outros Chicos Basílios agindo por toda parte. Trata-se de um contingente, e não de uma espécie em extinção, extremamente necessário para o Brasil. Lamentável também que o feito de Chico Basílio não ultrapassou a fronteira nacional para figurar nas páginas de algum jornal europeu ou americano, que preferem dá destaques às nossas experiências. Que brotem mais Chicos Basílios no patropi, para que possamos fazer jus ao amor, à ordem e ao progresso que desejamos para a nação.