Xerife é o apelido de um mulato de 65 primaveras, amante de uma boa gargalhada que neste outono anda até certo ponto áspero com o governo da Dilma. Logo ele que sempre votou no PT com a fidelidade de um seguidor de estrelas. Adepto de um bom papo sobre política, de preferência numa democrática mesa de bar, Xerife nunca mediu palavras para levantar a bandeira do socialismo em qualquer ambiente. Apesar de andar bem informado com o noticiário nacional e internacional, visto que é um inseparável amigo do rádio, nosso personagem é capaz de passar décadas planejando tirar uma Carteira de Identidade nova ou simplesmente sem saber por onde começar a busca dos benefícios que o Estatuto do Idoso pode proporcionar. Características de uma personalidade que migrou para a Capital percorrendo o caminho da vida sem maiores ambições. O direito a um pedaço de terra para plantar e comer o que colher é o que mais lhe satisfaz. Torce por um governo honesto com foco no social. É tudo o que deseja para o país.
No entanto, depois que Lula resolveu comprar um avião por milhares de dólares, fechar os bingos sem apontar uma solução para quem ficou desempregado, demorar tanto tempo para anunciar um irrisório aumento do salário mínimo e ser tão rápido e mordaz como o jornalista americano que andou escrevendo estupidez sobre seu hábito de beber socialmente e moderado, que o Xerife diz para todo o mundo que perdeu o entusiasmo político com o comando de Lula. Costuma falar para aos amigos do bairro que já não acredita mais em político algum. Se alguém lhe chegar ao pé do ouvido e falar alguma coisa sobre a viagem de Lula à China, ou de Obama no Brasil, ele fecha a cara e sai logo com uma frase típica do seu mau-humor: “Este filme eu já vi”.
O que o Xerife não quer mais entender é que o filme está apenas no início. Que do meio para o fim muitas cenas ainda serão protagonizadas pelos atores do planalto. Que o ator principalmente está na fita para garantir o sucesso do roteiro acordado com a base alinhada. E que, se ele não é Deus, é tão soberano quanto um rei. As imagens deste longa-metragem, com quatro anos de projeção, certamente irão entrar para os anais da história do país.
Essa passagem de um homem do povo pelo poder e agora uma mulher, Xerife acompanha com entusiasmo e uma expectativa peculiar. Apesar de se dizer estar em negras nuvens com relação à conjuntura política econômica brasileira, o velho Xerife confessa do fundo da alma ainda acreditar no amanhã ensolarado inspirado pelos ventos de mudanças que o Brasil precisa. Se perceber o crescimento da geração de empregos, uma política educacional alinhada à prática esportiva para os jovens, a segurança não mais representando um perigo, a saúde e a habitação um direito de todos e a divisão de renda caminhando para fortalecer as famílias acomodadas na pirâmide, “seu” Xerife garante que não vai virar a casaca. Por enquanto, como um pacato cidadão, segue assistindo a tudo desconfiado, com ar de quem está virado pelo avesso com esse tal de crescimento que tão tarda a chegar. E relaxado, gosta de contemplar o luar sonhando em voltar pra o interior, onde tem uma cerca pra cuidar. Mas enquanto este dia não chega, nunca deixa um fim de semana passar sem saborear uma gelada em casa ou em público. É o momento que gosta de lembrar o ex-presidente Jânio Quadros exclamando quando faz um brinde: “Saúde. Bebo porque é líquido”!
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